Como nossos antepassados influenciam nossa vida atual?

Nossa ancestralidade tem papel vital na construção de nossa visão de mundo e nas relações que mantemos.

Nossa história não começa em nosso nascimento, nem mesmo somente na relação de nossos pais. Nossa história começa em nossos ancestrais - através deles herdamos valores, crenças, sentimentos e uma série de marcas que estão impressas em nosso corpo/existência.

Há um inconsciente familiar onde estão armazenadas experiências negativas e positivas, como por exemplo, doenças e mortes trágicas, separações e afastamentos, mudanças geográficas, traumas. Mas também ascensões sociais, uniões felizes, nascimentos, etc. Esses fatos e experiências são transmitidos por seu efeito e não por seu conteúdo. Assim, a história de nossos ancestrais causam reflexos em nossa vida.

Importante colocar que essa informação não é espírita e nem está relacionada a nenhuma religião. O que acontece é que acessamos um campo de memória sistêmico através de imagens gravadas em nosso subconsciente. Com isso, aquilo que acreditamos, construímos e mesmo nosso comportamento está sob a influência de todo um coletivo, de toda uma história que iniciou a muitas gerações passadas.

A nossa existência física no dia de hoje só foi possível graças aos esforços de pessoas que nos antecederam em nossa linhagem biológica, mesmo que nesse percurso, tiveram inúmeras dificuldades, privações, ações equivocadas ou mesmo inadequadas. Temos, portanto, um grande legado da nossa ancestralidade que nos influencia em sermos quem somos, as escolhas que fazemos, padrões que utilizamos que dificultam nossa vida, nossos relacionamentos e até mesmo sob nossa atuação profissional.

Nossa herança está para além da parte biológica, recebemos uma herança cultural e emocional de nossa família. Podemos perceber isso quando sabemos o que nossos ancestrais precisaram realizar ou passar para sua sobrevivência. Os imigrantes europeus, por exemplo, que chegaram ao Brasil fugindo da fome e necessitaram encarar um trabalho árduo, podem ter transmitido a memória de privação aos seus descendentes ou a noção de que o dinheiro só chega depois de muito sofrimento e esforço. Essa necessidade, esse fato gera uma crença e, consequentemente, um comportamento voltado a escassez relacionado ao trabalho, alimentação ou dinheiro que se reflete atualmente.

Nessa perspectiva, podemos compreender que o que aconteceu com um membro de nosso sistema nos afeta. Não importa a distância geográfica ou se ocorreu anos antes. Temos influencia até, aproximadamente, a sétima geração. Não importa também se esse membro fez algo considerado moralmente errado. Num sistema todos pertencem igualmente. Quando um familiar comete um crime, um suicídio a tendência é ser esquecido, “não falado”. Isso gera uma exclusão. A família, funcionando como um sistema, ou seja, como um conjunto de elementos interdependentes de modo a formar um todo organizado, entende que essa exclusão necessita ser compensada.

Essa compensação virá através de um descendente que pode assumir um comportamento semelhante ou uma doença grave, por exemplo. Nos enredamos no nosso sistema familiar e tomamos para nós problemas que não somos capazes de resolver, simplesmente porque eles não são nossos, não foram gerados por nós ou não dizem respeito a nós diretamente.

A importância de conhecer nossa ancestralidade, pode nos revelar a compreensão de sentimentos, conflitos ou doenças que nos acompanham e aparentam não ter explicação ou mesmo uma solução. Faça uma pesquisa pela história da sua família, entenda que qualidade seus antepassados lhes transmitiram, quais suas crenças, suas doenças, quais suas origens, porque imigraram, quais outros fatos são significativos. Saber dessa história é compreender a sua origem e, assim, honrar aqueles que passaram antes possibilitaram que você possa estar hoje usufruindo da vida.

Letícia Martins

É psicóloga graduada pela Unisinos e possui 18 anos de experiência no atendimento a mulheres que sofrem com ansiedade. Ao longo da sua carreira, já atendeu mais de mil mulheres, ajudando-as a superarem os desafios da ansiedade e construírem uma vida mais plena e feliz.

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