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Quando o Paciente Resiste: Um Convite à Reflexão Entre a TCC e a Terapia Sistêmica

Foto do escritor: Pensamentos com a PsiquePensamentos com a Psique


A resistência em terapia costuma ser vista como um entrave, um sinal de que o paciente "não quer mudar" ou "não está pronto". No entanto, se olharmos com mais profundidade, perceberemos que a resistência é, na verdade, um movimento legítimo e natural dentro do processo terapêutico. Tanto na Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) quanto na Terapia Sistêmica, encontramos diferentes formas de compreender esse fenômeno e estratégias para trabalhar com ele, em vez de contra ele.

Este texto é um convite à reflexão: e se, ao invés de tentar "vencer" a resistência, aprendêssemos a dialogar com ela?

Olhando Pela Perspectiva da TCC: A Resistência Como Padrão Cognitivo e Comportamental

Na TCC, a resistência costuma estar associada a crenças centrais disfuncionais e estratégias de evitação experiencial. O paciente pode ter internalizado ideias como "eu não sou capaz de mudar", "terapia não funciona para mim", ou "se eu mexer nisso, vai ser pior".

Isso faz com que, muitas vezes, ele evite aprofundar certos temas ou adote uma postura de descrença diante das técnicas propostas. Essa evitação pode ser inconsciente e servir como uma forma de proteção contra o desconforto emocional.

Reflexões TCC para o terapeuta:

Que crenças centrais podem estar sustentando essa resistência?

O que o paciente está evitando experienciar?

O processo terapêutico está sendo colaborativo ou o paciente sente que apenas recebe "tarefas" sem compreender seu propósito?






Para trabalhar com isso, a TCC propõe algumas estratégias:

Reestruturação cognitiva: ajudar o paciente a desafiar e reformular suas crenças centrais de maneira gradativa.

Exposição gradual: permitir que ele entre em contato, de forma segura, com os sentimentos e situações que teme.

Psicoeducação: explicar o funcionamento da terapia para reduzir a sensação de descontrole sobre o processo.

Fortalecimento da aliança terapêutica: criar um ambiente colaborativo onde o paciente se sinta ouvido e compreendido.

Olhando Pela Perspectiva Sistêmica: A Resistência Como Proteção do Sistema

Já na Terapia Sistêmica, a resistência não é vista como algo que pertence exclusivamente ao indivíduo, mas sim como uma resposta do sistema ao qual ele pertence. Cada mudança no paciente pode representar um risco para a estabilidade das suas relações, e muitas vezes, de forma inconsciente, ele resiste para preservar vínculos importantes.

Por exemplo, um paciente pode se recusar a mudar porque teme que isso o afaste de sua família ou desestabilize um relacionamento. Ou ainda, pode estar repetindo padrões familiares, sendo leal a uma narrativa herdada que lhe impede de avançar.

Reflexões Sistêmicas para o terapeuta:

Que papel esse paciente desempenha dentro de seu sistema familiar e social?🔹 A mudança terapêutica pode representar uma ameaça a alguma relação importante para ele?

O que acontece no sistema quando esse paciente tenta mudar?


Algumas estratégias úteis dentro dessa abordagem incluem:

Identificar lealdades invisíveis: compreender quais dinâmicas familiares podem estar mantendo o paciente no mesmo lugar.

Externalizar o problema: ajudar o paciente a enxergar a resistência como algo separado dele, para que possa lidar com isso de outra forma.

Trabalhar com ressignificação: permitir que ele construa novas narrativas sobre si mesmo, suas relações e suas possibilidades de mudança.

Explorar o impacto da mudança: ajudá-lo a refletir sobre como transformar sua vida sem perder as conexões que valoriza.





Dois Olhares, Uma Reflexão Maior

Se unirmos esses dois olhares, podemos perceber que a resistência, longe de ser uma barreira intransponível, é uma porta para um entendimento mais profundo do paciente.

Enquanto a TCC nos ensina a olhar para as crenças, padrões de pensamento e comportamentos evitativos, a abordagem sistêmica nos convida a considerar o contexto maior em que esse paciente está inserido.

Quando um paciente resiste, talvez ele esteja nos dizendo algo que ainda não conseguiu colocar em palavras. Cabe a nós, terapeutas, escutar com curiosidade, com empatia e com a consciência de que a mudança só acontece quando a pessoa se sente segura para atravessá-la.

E você, como tem lidado com a resistência nos seus atendimentos?

 
 
 

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