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Minha história com a ANSIEDADE


Hoje eu quero me apresentar para vocês sob a perspectiva de quem possui ansiedade e vem lidando com ela desde a adolescência (pelo menos é o que eu acredito ser o período que iniciei essa caminhada de mãos dadas com a ansiedade). Bora lá, o mais resumido possível.


O que consigo me lembrar é de que aos 14 anos, indo para um almoço na casa de uma colega de escola, que morava beeeem longe, com uma turma de amigos/colegas pegamos um ônibus e fomos. No meio do caminho, passei mal, quase desmaiei e precisei ser retirada do ônibus. Estava muito tempo sem me alimentar e tentei vomitar, mas não havia nada no estômago. Lembro que alguém me deu um copo de água que parecia meio suja. Acho que tomei, não lembro. Não lembro nem como cheguei na casa dessa colega. O que lembro é de avisar meu pai e ele meio bravo ter que ir me buscar do outro lado da cidade. Quando ele está preocupado, ele muitas vezes demonstra com certa braveza/irritação. Entendi isso apenas quando adulta e, principalmente, depois de ser mãe. Até hoje ele fala sobre este episódio.


Depois dessa situação não gostava mais de ir de ônibus para a escola. Vai que eu precisasse descer rápido novamente e teria que esperar até a próxima parada? Era uma distância arrebatadora! Depois de um tempo, passei a evitar andar de ônibus. Tinha que ir de lotação, afinal essa parava quando eu quisesse. Mas e se eu precisasse, descesse e estivesse longe da escola? Teria que aguardar a próxima e me atrasar! Ia o trajeto todo pensando em como falar com o motorista, pensando “vou descer agora”, “vou aguentar um pouco mais”, “não vai dar, vou descer”, “espera só mais um pouco e daí eu desço” e assim ia, ruminando esses pensamentos e acreditando que faltava muito pouco para passar mal novamente.


Junto com esse desmaio, minha mãe (que também tem ansiedade, síndrome do pânico) me levou ao médico e este disse que eu tinha hipoglicemia e precisava me alimentar a cada 3 ou 4 horas, que podia tomar uma coca-cola, quando muito necessário, para repor o meu açúcar rapidinho, andar com balas e chocolates na bolsa. O que eu entendi? Que precisava de uma coca-cola a cada três horas se não eu iria desmaiar. E assim, tomei bastante coca-cola, e não outro refrigerante, afinal foi esse que o médico citou, não é? E eu detesto coca-cola. Não sei se já não gostava na época, mas eu sei que hoje não gosto. Tomo raramente. E assim, a minha preocupação de comer sempre para evitar qualquer situação iniciou. Desmaiar e ser levada pelos colegas de novo? Que mico!


Mas tudo foi ficando maior. Comecei a não gostar de ficar em lugares fechados ou que eu não pudesse sair rápido ou ter fácil acesso às saídas. Precisava sair da sala para ir ao banheiro, pois se eu passar mal lá, já tem o vaso sanitário, ninguém vai ver.


E esse é um dos pensamentos mais difíceis de lidar, não querer que ninguém veja você "passando mal” e ao mesmo tempo não querer ficar sozinha caso você realmente passe mal e precise de ajuda. Oh contradição maldita!


Lembro que minha mãe escreveu um bilhete para comunicar aos professores que eu precisava sair da sala eventualmente. Mas um, um bendito professor de biologia, leu o bilhete e disse para eu voltar a sentar. Noosssaaaaa, o que eu ia fazer naquele momento? Senhor, meu pior pesadelo! Vou morrer no meio da sala, vomitar como no filme O exorcista, ter uma diarréia, desmaiar, tudo isso na frente de todo mundo! Preciso comer a bolachinha que tenho na mochila! Isso vai ajudar!


Lembro de uma viagem da turma, fomos de ônibus para a Bahia. Senhor, como eu pude fazer isso?! Lugar fechado, sem banheiro discreto, sacolejando num ônibus, com 50 adolescentes só querendo fazer barulho e pegadinhas em quem fizesse qualquer coisa esquisita. E era certo que eu pareceria esquisita se sentisse qualquer coisa naquele bendito ônibus. Mas fui, lembro de poucas coisas, apenas de uma discussão entre dois colegas.


O que lembro é de estar passeando no RJ (a viagem era com escalas porque ninguém vai do RS a BA sem parar, né?!) e acreditar que eu precisava comer urgentemente alguma coisa. A memória que tenho é de uma amiga me levando pelo braço, meio p*** da cara, porque eu ia passar vergonha e fazer ela passar também (eu acredito que foi isso pelo menos), fiz ela pedir um pão e uma coca-cola na barraca do Pepe (nem sei se existe mais esse lugar). Ah, pronto, estava alimentada e podia curtir o passeio agora! Uma preocupação a menos para lidar numa viagem de adolescência.


Teve outras incontáveis vezes (acho que todas as vezes) que saí e precisava me certificar onde era o banheiro do local, as condições de higiene do banheiro, a porta de saída e calcular o tempo de chegada em cada lugar em caso de emergência.


Quando meu avô materno esteve internado e fui visitá-lo tive um breve desmaio também. Mas estava já num hospital e “tudo bem”. Tive um namorado e morria de vergonha (outro ponto que acompanhou muito minha adolescente e grande parte da vida adulta, a senhora vergonha) de comer ou dizer que estava com fome. Passava umas 6 ou 7 horas sem comer. Meu pai, ao me buscar um dia, disse que eu estava com bafo de não comer. Nem sabia que isso existia, e incluí essa neura na coleção.


Tive namoros bem ruins, também por conta da minha ansiedade, mas não somente por isso, em que eu evitava sair com eles, estar em grupos grandes. Sempre acreditei que precisava de um plano de fuga em qualquer situação/diversão e me sentia inadequada. Ficava quieta, e descobri que não falar também dá bafo (quase coloquei um link sobre bafo aqui no texto!) Era a namoradinha boba e quietinha do “queridão” da turma. Eu sempre namorei o cara que falava bastante, o mais “exibido” e bem relacionado da turma, o engraçadão. Faz sentido? Não, mas né!


Na faculdade sempre tive dificuldade em apresentar trabalhos, eram dores de barriga sem fim, aflição por acreditar que ia ter um mal súbito no meio da apresentação. O fato de simplesmente não poder sair e ser o “centro das atenções” por breves minutos me faziam bolar planos miraculosos e desculpas “inéditas” para não poder ir no dia. Mas sempre fui. No final da faculdade, quando aprendi que quando gostamos do que estamos estudando e nos motivamos, é bacana falar sobre isso. Hoje até gosto de falar em público, mas ainda preciso me assegurar de muitas coisas para que “tudo dê certo”.


Pulando essa parte, que é pauta sempre da terapia até hoje, relacionamentos afetivos… chegamos na parte em que “casei” e fui morar em outra cidade. Acredito que tive minhas piores crises, mas que começou a minha “cura” pra minha ansiedade. Descobri muitas coisas sobre mim mesma que me fizeram perceber a minha força e não mais me sentir tão fraca, frágil e vulnerável o tempo todo. Mas nessa estadia na serra gaúcha, encontrei pessoas que falavam comigo sobre a sua própria ansiedade e fui me sentindo mais normal e entendendo que o que eu sentia tinha nome e eu não era uma pessoa a beira da loucura (e que ainda por cima, era psicóloga, vejam só!). Bem controverso na minha mente (na sua também, confessa!). Sempre fiz terapia, principalmente, por certa “pressão” da faculdade. E por longo tempo não encontrei uma profissional que me deixasse à vontade. Muito mais tarde eu entendi que eu sempre senti que estava certa, porque tudo era culpa dos meus pais (e hoje descobri como isso acaba com a gente). Eu tinha problemas nos meus relacionamentos por culpa da minha mãe, meu pai era ausente, era o tal do complexo de édipo, era pela criação que minha mãe teve, porque ela tinha síndrome do pânico, porque ela era assim e fazia assado e….affffff…. culpar os pais sem saber o que fazer com o que sentimos não colabora em nada. A ansiedade só aumenta, afinal, se os pais não são de confiança, quem vai ser? Se os pais não “prestam”, quem vai prestar neste mundo assustador? Não foi fácil, mas eu achava que estava arrasando “em casa”.


Mas voltando a história do que aconteceu morando na serra (a gente se perde pra falar da nossa ansiedade, é um novelo emaranhado sem começo nem fim), eu comecei a fazer terapia com uma psicóloga “alternativa” que me questionava, propunha intervenções ativas. Deu uma saculejada boa. Não lembro agora o motivo, mas mudei de psicóloga e essa foi mais maravilhosa ainda. Num acolhimento em que me fazia sentir normal e possível de ser amada, mesmo a um passo de ficar “louca”. Entre elas eu consultei uma psiquiatra muito boa, que não me receitou de cara tarja preta sistemático, mas me apresentou o rivotril sublingual, que, (in)felizmente, ainda funciona como um porto seguro, embora o efeito seja placebo. Preciso dele na bolsa, mesmo que não use.


Mas meus sintomas físicos estavam fortes. Fiz alguns exames do coração. Vocês sabem que depois de “velha” (leia-se depois dos 22 anos) você que tem ansiedade tem certeza que está prestes a infartar ou a ser descoberto como o único ser no planeta em que o coração parou de funcionar e você permanece vivo e pensando “normalmente” (leia-se catastroficamente). Para além da conhecida ansiedade, estava em depressão provavelmente, pelo contexto.


Por conta do relacionamento e questões financeiras não estar bem e retornamos para “nossa” cidade. Um ano após, engravidei. Oito meses depois do nascimento dela, nos separamos. Depois de reorganizar a vida um pouco, retomei a terapia, iniciei medicação, parei a medicação. Mas o que me ajudou muito (e ainda ajuda) foi conseguir retomar minha vida de estudante e fazer formações que mexeram muito com minhas concepções pessoais e, por consequência, profissionais. E, por incrível que pareça, pensando bem, a existência das redes sociais me ajudou a compreender ainda mais sobre a minha ansiedade, autoestima, profissão, psicologia, maternidade, relacionamento. É claro, que é preciso muito estudo, pesquisa e discernimento para escolhas assertivas. Já caí em muita furada também e profissional charlatão.


Mas eu fui estudando sobre a ansiedade e percebendo que ela existe há muito tempo na minha história, antes mesmo do meu nascimento. E que ela faz parte da vida de todos nós, que ela não é um monstro e que ela me ajudou muitas vezes. Percebi que o que sinto é comum, mas o meu sofrimento não é natural. Aprendi que existem diversas formas, intervenções, terapias, pessoas, profissionais, que podem auxiliar para que esse sofrimento fique menor, pequeno, tolerável.


E assim, eu descobri que o que desejo fazer é colaborar para que outras pessoas possam enxergar essas opções, compreender o que sentem e pensam, saber que podem modificar e se sentirem MELHORES! Sim, dá sim!


É 100% garantido? Se você se comprometer, eu acho que é 95% garantido. Pois é processo, não é macarrão instantâneo. Vai mexer com você, fazer repensar, refletir, alguns dizem até sofrer. Mas eu compreendi que sofrendo você já está sofrendo, então vamos sofrer para melhorar, pra dar sentido na vida?!


Vamos iniciar essa caminhada para você também descobrir a leveza de viver mesmo com ansiedade? Te aguardo!


Faça contato (51) 98039.9254

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