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A solidão feminina e o legado familiar



Tenho me deparado com uma questão importante nos processos terapêuticos que acompanho, assim como nas rodas de conversa entre mulheres, a solidão feminina. Essa solidão se mostra através de questionamentos sobre seus relacionamentos, ou pela falta deles, pela dúvida sobre exercer a maternidade, sobre as conquistas no campo profissional.


Mas quero trazer um ponto específico, que me parece abalar mais as mulheres, os relacionamentos afetivos. Muitas mulheres acima dos 35 anos questionam o motivo de não ter uma relação considerada sólida, a certeza de serem mães com um bom suporte afetivo.


Podemos olhar para as mudanças sociais que se produziram e colocaram a mulher num status de independência que requer manter uma força, por vezes, impossível. Mas não será o ponto discutido, apesar de compreender que deve ser considerado.


Quero olhar para uma perspectiva que expõe nossa relação com outras mulheres, principalmente as mulheres que fazem ou fizeram parte da nossa família. A história delas reverberam na nossa história atual. Inconscientemente estamos ligadas ao destino delas e, sem saber, podemos estar repetindo os padrões vividos por elas.


Para iniciarmos essa conversa, vamos falar de uma das leis naturais da vida. Uma delas é compreender que todas as histórias, os acontecimentos, os sentimentos, os traumas, as conquistas, as separações, as formas de relacionamentos, etc, são passados para nós. Mesmo histórias de homens e mulheres que foram excluídas, como por exemplo pessoas que foram embora ou tiveram mortes trágicas. Essas são marcas sistêmicas que reverberam em nós mesmo que não tenhamos conhecimento. São as heranças emocionais que todos recebemos, querendo ou não.


Olhando para isso, podemos então considerar que algumas mulheres estão ligadas a um destino considerado difícil no seu sistema familiar. Sem saber, está olhando para essa situação e tentando resolvê-la. Isso tudo se dá, de forma inconsciente, por sermos leais a todos os membros de nosso sistema. Vamos elucidar que sua bisavó foi “abandonada” pelo marido com dois filhos e uma filha ainda pequenos. Esse foi um assunto proibido na família, ninguém podia falar desse homem. Os filhos não podiam perguntar sobre isso, viam a mãe sofrendo e não entendiam nada. Essa filha, acredita que os homens fazem mal às mulheres e acaba tendo um casamento com um homem considerado abusivo, afinal “nenhum homem presta”. Dessa relação têm duas meninas. Uma delas tem um casamento, mas esse homem não tem muitas chances, afinal há duas gerações de corações machucados para lidar. Acaba sendo um homem apagado, com dificuldades financeiras ou uso de álcool. Esses dois são teu pai e tua mãe. Qual sua motivação para ter um bom relacionamento? Quais são suas crenças sobre homens e formas de relacionar? Percebe que essa construção sobre relacionamentos vem de muito longe e hoje você se depara com essa dificuldade em “encontrar” um homem confiável e estável? Algumas hipóteses podemos pensar nessa situação. Você ainda carrega o sofrimento dessa bisavó e por lealdade a ela permanece sozinha, escolhendo homens que não conseguem levar uma relação adiante. Você está fora do seu lugar em seu sistema, acha que pode salvar essa mulher e não percebe toda a força que essa situação também deu a ela e fica presa ao relato das mulheres sofredoras e dos homens “maus”.


Também pode acontecer de você ser excessivamente crítica, consigo e com outras mulheres. E assim, é severa e julga sua mãe como fraca por permanecer com um homem como seu pai. Porém, para você compreender sua mãe, inconscientemente você repete esse destino e confirma a crença (tão justificável) de estar em relações também fracas ou com homens considerados abusivos. É como se você atraísse esse perfil para justificar tudo que aconteceu com essas pessoas.


Esses são exemplos, aprofundando essas histórias e suas questões individuais pode-se saber qual a direção de seu olhar e de seu amor para esse sistema. Mas se algo aqui fez sentido para você, sugiro que possa fazer uma releitura de todas essas histórias e se esforçar para não olhar com julgamento para esses casais. Sim, olhar para as mulheres e para os homens. Afinal, agora é possível você compreender que todos estão a serviço de seu sistema. Provavelmente a história que contamos aqui, iniciando com os bisavós, vem de muito longe.


Te provoco a deixar com cada um deles o seu destino, pois todos tiveram força para lidar com ele e foi dessa força e dessa exata forma que a Vida chegou até você. Pois se sua avó resolvesse não sustentar uma relação mesmo cheia de situações, você não estaria aqui.



Te provoco novamente a olhar esses homens e compreender que eles eram os certos para mulheres com corações e pensamentos tão arraigados em crenças. Assim, percebemos que tudo está certo como está.


Você agora pode olhar para todos, agradecer e aos poucos caminhar em direção a uma relação mais satisfatória. Não perfeita! Não sem erros e dores, mas uma relação possível. Com homens e mulheres reais.


Há uma meditação sistêmica que Bert Hellinger nos presenteia que pode auxiliar a recompor isso junto a você. Posso te enviar, solicite!


Ficou com alguma dúvida, quer saber mais? Faça contato (51) 98039.92.54


Acompanhe também as redes sociais @pensamentoscomapsique


Com carinho,

Letícia Martins

Psicóloga e Consteladora Familiar







55 visualizações3 comentários

3 Comments


Petula, tudo bem? Preciso que você me forneça seu contato para que eu possa enviar o exercício. Obrigada

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petula.borges
Jan 04, 2021

Gostei do texto. Gostaria desta meditação de Bert Hellinger. Se puder enviar, agradeço. Abraço

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lurodrigues30
Jan 04, 2021

Me identifiquei muito com o texto.

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